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Quinta Dimensão

Não gosto de reciclar ... nem de bater no Juiz Negacionista

Setembro 10, 2021

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Não gosto de reciclar

... nem de bater no Juiz Negacionista.

 

Blasfémia. A fogueira aguarda-me.

 

Mas porque devemos defender a reciclagem e porque devemos atacar o juiz negacionista?

Vamos por partes e pensar um pouco.

 

Peguemos, por exemplo, na situação do plástico e dos microplásticos.

Os danos ambientais e sociais provocados por essa praga são catastróficos e alarmantes, mas nem por isso deixamos de ver plástico em garrafas ou embalagens de alimentos, na construção civil, na indústria automóvel, nos dispositivos tecnológicos e nos brinquedos dos nossos filhos. Um monstro insaciável.

A reciclagem surge como uma espécie de penso rápido para aplicar numa chaga de crescimento exponencial e sem fim à vista. Tão-pouco é possível reciclar a totalidade do plástico e certos processos de reciclagem libertam gases nocivos para a atmosfera. Inclusive, muitos dos contentores usados, para depositar os resíduos a reciclar, são feitos de plástico. Termos como "reciclagem" ou "energia verde" são aceites universalmente como algo positivo para o planeta e humanidade, mas não deixam, também, de ser uma espécie de armadilhas escondidas. Ao defendermos a reciclagem, não colocamos na agenda ambiental a discussão do verdadeiro problema: o consumo desmesurado de recursos incentivado por modelos económicos desajustados. A palavra "reciclagem" alberga, por conseguinte, uma riqueza e complexidade de questões e perspetivas que devem ser debatidas com propósito e seriedade. Não devemos, simplesmente, negar pensar sobre algo porque vai contra a linha de pensamento consensual.

 

Juiz Negacionista.

Quantas vezes ouço esta expressão nos órgãos de comunicação social? Para começar é uma expressão vazia. Não dignifica o jornalismo nem os jornalistas que a usam. Devemos exigir muito mais deste Poder basilar de uma sociedade democrática. Não estou a defender a pessoa em causa, mas também não lhe quero bater porque defende algumas ideias diferentes das minhas. Estamos a falar de uma pessoa que terá de ter algum mínimo de inteligência, educação e cultura, que lhe permitiu alcançar o cargo de juiz. Alguém que, bem ou mal, sustenta as suas posições com argumentos pensados. Alguém que tem coragem para enfrentar críticas ferozes por algo que acredita.

Amanhã celebra-se o aniversário dos atentados do 11 de setembro. A “Covid” desses tempos dava pelo nome de "Terrorismo" e assistiu-se a uma "perseguição" de pessoas que defendiam temas relacionados com a privacidade. Eram caricaturados de antipatriotas e traidores. Alguns tinham ou têm nome, como é o caso de Edward Snowden. Sem querer entrar no campo polémico das comparações, Rui Fonseca e Castro pode estar profundamente errado, mas não é por isso que deve ficar sem voz. Hoje faleceu Jorge Sampaio. Um democrata, com as suas virtudes e defeitos, mas defensor da pluralidade. Não devemos deixar morrer a riqueza da diversidade de opiniões.

A minha parca experiência de vida diz-me que a verdade não tem dono e, por vezes, surpreende-nos. Mesmo a ciência - com todo o seu conhecimento e história - por vezes, engana-se. Assenta sobre determinados axiomas que só estão certos até que surja alguém que prove que estão errados. Tristemente, alguns operadores da ciência usam, num curioso paradoxo, as mesmas vestes que os longínquos oficiais da Inquisição da Santa Sé. Temos assistido a uma debandada, gradual e preocupante, do pensamento filosófico em várias áreas da ciência e da política. Em grande parte da sociedade. O vazio deixado pela ausência de pensamento crítico é preocupante quando preenchido pela cegueira da arrogância e intolerância. Não é fácil quebrar o manto ideológico que nos envolve, mas só o podemos fazer com uma arma: a questão e a humilde busca por respostas.

 

Não gosto de reciclar

... nem de bater no Juiz Negacionista.

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