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Quinta Dimensão

Agradecentim0$

Junho 12, 2023

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Fez, no passado mês, 16 anos que nasceu este blog. Apesar da relativa longevidade, houve um período considerável de inatividade, o que me leva a considerar a existência de dois períodos: o mais antigo, de 05/2007 a 06/2012 e o recente, de 07/2019 até este presente. Em retrospetiva, tive momentos em que escrevia com alguma frequência e outros em que quase não escrevia, mas não sou, por norma, pessoa de escrever muito. Ainda assim, sinto que posso escrever sobre qualquer coisa. Não porque sei de tudo, mas porque sei de nada. Desse modo, as expectativas são nulas e ninguém está à espera que produza um artigo científico, uma obra filosófica, ou um poema que faça rir ou chorar, enquanto respeita métricas. Nada tenho para ensinar e tudo o que tenho são anseios e limitações para aprender. Se me atrevo a apresentar respostas e essas não forem mais que uma ou mais perguntas, possivelmente estarão erradas. As próprias perguntas, muitas vezes, não serão as corretas. Em suma, escrevi, ao longo de todo este tempo, muitas asneiras.

Não me considero alguém deprimido ou depressivo, mas sinto-me a sombra de um homem que não chegou a ser. Tento, apesar de tudo, não me levar demasiado a sério e equilibrar as tristezas com uma espécie de humor que gravita entre a secura e a corrosão. Com mais ou menos dificuldades, mais ou menos tijolos, procuro cimentar pensamentos que me ajudem a organizar o caos em que, não poucas vezes, me encontro perdido. Elejo, com especial carinho, a poesia como modo preferido de expressão. São pobres poemas que mendigam poesia.

O blog tem passado relativamente despercebido. No entanto, recentemente, foi alvo da atenção da equipa do Sapo Blogs e, por razões que me são alheias, acharam que um dos seus posts merecia ser destacado. Apercebi-me do facto, quando comecei a ter um anormal número de visitas e comentários, que vieram perturbar a habitual pacatez deste refúgio. Quero, portanto, agradecer à equipa do Sapo Blogs, a gentileza que muito me honrou. Aproveito, também, para agradecer a todos os visitantes e leitores, dos mais antigos aos recentes. Na sequência, não posso deixar de enviar um sentido obrigado a quem subscreve, adiciona aos favoritos, ou tira algum tempo para interagir através de comentários. Por fim, destacar e estender o obrigado, a quem escreve e me concede a oportunidade de espreitar as suas histórias ou perspetivas sobre tantos assuntos.

A “Quinta Dimensão” continua a ser um blog pequeno, mas a frenética atividade, que explodiu nos últimos dias, perturbou-me. Primeiro fiquei assustado e, depois, apreensivo. Senti uma espécie de pressão para não desiludir quem pensava ter encontrado alguma coisa que valha a pena. Sem ilusões, não vale. Comecei, de imediato, a pensar como poderia reduzir as visualizações. Talvez, se escrevesse algo que fizesse com que me cancelassem? Ato contínuo, sabia que tinha de escrever algo sobre pronomes. Mas, gradualmente, desacelerei e respirei e acalmei-me. Sossega-me a ideia de continuar abrigado sob a manta do anonimato e pensar que o meu primeiro e mais crítico subscritor é o branco da folha.

Não lido com muitas pessoas, mas noto que umas são boas a arranjar carros, ou a conduzir camiões, ou a fazer planos de marketing, a programar aplicações para telemóvel, escrever pareceres, dar consultoria, vender carros, casas, ou outras coisas, a jogar ténis, xadrez, ou futebol... Enfim, a maioria das pessoas parece saber que é boa a fazer alguma coisa, nem que seja Sudoku ou a solucionar cubos de Rubik. Incomoda-me o facto de, até hoje, não saber a minha real vocação, aquilo que sei fazer melhor. Por momentos, no seio da azáfama do aumento exponencial de atenção que o blog teve, senti uma vertigem e a tentação de pensar que talvez soubesse escrever. Mas conheço minimamente a extensão das minhas limitações, para saber que é mentira e, com a mesma velocidade que a ideia chegou, partiu. Depois, li num dos comentários, de um leitor anónimo, que há bloggers a ganhar dinheiro. Uma, das imensas coisas, onde sempre fui muito mau, foi a ganhar dinheiro. Aquele comentário, somado às centenas de visitas e visualizações recentes, começou a atiçar uma certa ganância que desconhecia existir em mim. Talvez, quem sabe, tenha tropeçado numa mina de ouro? Tinha-me transformado num capitalista psicopata neoliberal e só me ocorria que tinha que monetizar o tráfego no blog. Como uma febre galopante, a busca por poder e fama subia-me à cabeça e, de repente, dei por mim possuído pelo maligno espírito de Sr. Edward Hyde.

Não sei muito sobre ganhar dinheiro, mas leio umas coisas sobre como amansar a voracidade dos impostos. Portugal é um país pouco amigo do empreendedorismo e criar uma empresa não me parece a melhor opção. Nesse instante, uma luz desce sobre mim e ordena-me que crie uma nova religião. Dentro da minha cabeça, ouço, distintamente, “Quinta Dimensiologia”. Tudo acontece de forma rápida e quase não tenho tempo para processar. O tempo urge e tenho de agir.

Entretanto, quem me segue há mais tempo, deve estar a lamentar-se pelo facto de cairmos, novamente, no tema “Religião”. A minha empatia, pois têm toda a razão e prometo que vou procurar uma maneira de reduzir. Devo, no mínimo, uma explicação. De forma resumida, desde tenra idade, até perto dos trinta, fui exposto a doses maciças de radiação religiosa. Suponho que, como Madame Curie, também eu, quando for enterrado, terei que ser encerrado num túmulo de chumbo, de forma a não contaminar almas mais fracas. Mas adiante. Sim, uma religião. Ainda que os mais céticos possam questionar a minha lucidez.

Se me perguntarem, como raio vou criar uma religião a partir de 21 seguidores? Direi “Homens de pouca fé”! Há cerca de 2000 anos atrás, um empreendedor e visionário, criou uma startup, com poucos ou nenhuns recursos, a partir de 12 seguidores. Hoje é uma das maiores religiões do mundo. Tudo bem que tinha um Pai extremamente poderoso e bem colocado no mundo literário, que até já tinha escrito uns posts bastante famosos. Que mais tarde, esses posts iriam ser reunidos, compilados e integrados, pela editora de Gutemberg, num bestseller e que, a essa compilação, chamaram de “Velho Testamento”. Tudo bem que esse Pai ajudou, mas, ao mesmo tempo, não existia toda a estrutura tecnológica e de comunicação que temos hoje ao dispor, como as redes sociais ou o Sapo Blogs. A startup teve alguns desafios, claro. Não vamos escamotear que, se nos debruçássemos sobre a categoria “Ameaças” da análise SWOT, iríamos encontrar “Pôncio Pilatos” e “Império Romano”. Entradas que não davam muita saúde a quem os desafiava. Porém, mesmo apesar da traição de um insider, que se vendeu por uns trocos antes de se encontrar com a forca, foi um investimento na senda da velha escola de Warren Buffet, com fundamentos, sustentação e foco no longo prazo. Obteve, por fim, um sucesso assinalável e inequívoco. Lamento-me, contudo, porque queria um negócio de crescimento um pouco mais célere e não pretendia esperar tantos anos por dividendos. Por isso, nem tudo são rosas e, certamente, serei “crucificado” pelo uso de tantos estrangeirismos. Ganharei, também, com um grande grau de probabilidade, um lugar de destaque, não no Sapo Blogs, mas desta vez no inferno.

Portanto, desisto! Faltam-me alguns atributos para levar a demanda a bom porto. Sou péssimo orador e careço do carisma desse guru inspirador e empreendedor. Há quem diga que sofro da síndrome do impostor e sou compelido a reconhecer que estão meio certos porque, na realidade, o que sou é um impostor, na sua plenitude. Mas, por fim, tudo se há de resolver. Este blog voltará a ser o que era. Já passa da meia-noite e os 15 minutos de fama devem estar a esgotar.

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