Curtas-metragens da Quinta Dimensão - Recluso
Junho 12, 2007
Há uma eternidade que os dias aqui na prisão me parecem todos iguais. Os guardas continuam os mesmos, com cara de poucos amigos. Parecem seres de outro mundo, desprovidos de sentimentos, desprovidos seja do que for. Dizem que ao sexto dia Deus criou o homem e do homem criou a mulher, mas algures entre o 665º e 667º dias o diabo criou os guardas. Não consigo imaginar os guardas como membros da sociedade, como pessoas com família. Parecem-me, simplesmente, personagens sem alma. Ontem só nos deram trinta minutos de pátio!
Os colegas são de confiança… Confiava tanto neles, como confiaria o meu último naco de carne a um cão faminto. Já não há responsabilidade solidária. Hoje é cada um por si e pronto.
Quanto à comida, se é que assim se pode chamar, é sempre a mesma. É certo que num dia é peixe, no outro é carne, é frito, ou cozido, mas na prisão parece existir uma fórmula secreta que transforma qualquer sabor num sabor característico e exclusivo: um aroma denso e pastoso a cárcere.
Dizem que esta prisão parece um inferno, mas aqui há esperança. Não muita, é certo, e maldita… Um dia, talvez um dia, eu consiga fugir daqui para fora e deixar todo este passado preso ao limbo do esquecimento.
Atentamente,
ejail.