Lanterna dos Afogados
Novembro 27, 2021
“Quando seu Antônio comprou a Lanterna dos Afogados à viúva de um marinheiro que a montara há muitos anos, ela já tinha este nome e em cima da porta ostentava aquela tabuleta mal pintada, na qual uma sereia salvava um afogado. O marinheiro que montara o botequim desembarcara um dia de um cargueiro e ancorara ali, naquela velha sala negra do sobrado colonial.
Amara uma mulata escura que fazia arroz-doce para os fregueses e fornecia bóia aos trabalhadores do cais do porto.
Por que chamara ao botequim de Lanterna dos Afogados, ninguém sabia. Sabiam porém que ele naufragara três vezes e que correra o mundo todo. Antes de morrer casou com a amásia, para que ela pudesse herdar o já afreguesado café. Ela o vendeu a seu Antônio, que de há muito estava de olho nele, devido ao ponto que era ótimo. Antônio não gostava do nome do botequim. Não via razão para aquele título esquisito. E dias após a realização do negócio a tabuleta apareceu mudada. A nova trazia o desenho mal feito de uma caravela da época das descobertas portuguesas e por baixo um nome: Café Vasco da Gama.
Porém aconteceu que os fregueses olhavam espantados o novo nome do botequim e não entravam. Com aquela tabuleta nova e a limpeza que havia sido feita dentro da sala, eles não reconheciam o seu sujo porto de descanso, onde bebiam cachaça e conversavam nas noites do cais.
Seu Antônio era supersticioso. E no dia seguinte foi buscar nos fundos da casa a velha tabuleta, que voltou ao seu lugar.” - “Jubiabá” de “Jorge Amado”.
Bem ou mal, seu Antônio não exigia a apresentação de Certificado Digital...