Pergunto-me como me tornei tão anti-social?
O meu avô materno, na sua sóbria sabedoria transmontana, contava-me uma pequena história:
“Era uma vez uma raposa. Certo dia, acossada por um Sol impiedoso e fustigada pela sede, encontrou refúgio na sombra de uma ramada. Acima dela umas uvas deliciosas que, apesar de encorpadas, não davam parte fraca perante o peso da gravidade. Pareciam troçar da condição menos favorável do animal. A raposa astuta fita os olhos nos frutos e demora-se. Pela sua mente passam milhares de pensamentos até que, por fim e de uma forma tão seca como a sua boca, diz para si mesmo:
- Estão verdes.
Não pensando mais no assunto, seguiu o seu caminho.”
Sento-me debaixo de uma ramada de pensamentos.
Um manto de outono cobre as primaveras dos meus melhores anos e, apesar de não querer dar parte fraca perante o peso da idade, sinto-me maduro.
Mesmo assim, decido ocupar o lugar da raposa... e das uvas.
Demoro-me em milhares de pensamentos, até olhar novamente para mim.
Vislumbro uma criança velha, perdida num mundo estranho de adultos estranhos.
Um amador da existência.
- Estou verde.
Como foi possível não ter amadurecido?
Sinto que explica muito na minha vida mas sinto muito que não explique tudo.
É necessário um pouco mais de introspeção.
Limpo a névoa e olho mais um pouco.
Desta vez não me vou esconder.
A verdade é crua e pode ser cruel mas é com ela que tenho de seguir caminho.
Pergunto-me como me tornei tão anti-social?
“Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto.
Cada árvore conhece-se pelo seu fruto; não se colhem figos dos espinhos, nem uvas dos abrolhos.” - (Lucas 6:43-44)
As melhores respostas são as que trazem mais perguntas:
- Estou podre e perdi o meu caminho.