Espelho, espelho meu...
Dezembro 22, 2020
Um dia vi um filme sobre um homem comum que escrevia poemas. Depositava-os num pequeno caderno. Quase no fim do filme, perplexo, encontrou as folhas do caderno desfeitas numa infinidade de pedaços irrecuperáveis. Metaforicamente como se um espelho, com a sua personalidade, se tivesse desfeito à sua frente. Um poema é mais que uma memória, uma observação ou um desejo. É, possivelmente, um pedaço da alma de quem o gera.
Sei, empiricamente, que onde falta alma sobra escuridão e vazio. Sei e sinto, concretamente, essa escuridão. Tantas vezes me vejo espelhado em pedaços irrecuperáveis.
Como eu, também um dia, os meus poemas se vão partir. A alma semiperdida diluir-se-á, com tantas outras, num mar de esquecimento e, sem misericórdia, o tempo apagará todas estas linhas. Contudo nada disso importa, pois apenas escrevo para me sentir inteiro e, tudo isto, nas entrelinhas.