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Quinta Dimensão

O Martemático

Agosto 21, 2010

Hoje, por causa de uma conversa, lembrei-me desta relíquia...

 

 

 

 

Do Ábaco ao computador actual, passando por Blaise Pascal;
tudo se alterou de forma radical.
O noivado da informática e da caneta,
num raciocínio do digital e da sebenta.

Matemático de Marte,
a exactidão é uma arte.
Poeta de terra,
os mundos estão em guerra.

Combinações que na tua vida não combinam,
correspondências que os números não ensinam.
Integrais que não integras jamais,
diferenciais que perdes entre suspiros e ais.

Arredondas um par de raízes quadradas,
com o encanto de um conto de fadas.
Traças diagonais e assimptotas verticais,
com a magia de poemas musicais.

Desenhas gráficos com tangentes e secantes,
em quadrículas cúmplices como amantes.
Sombreias o espaço interceptado com cinzentos,
como se procurasses esconder os tormentos.

Calculas este raio de mundo
com contas de carácter profundo.
Transformas um dado em parâmetro
e um mistério na função que devolve o diâmetro.

Reduzes o complexo à canónica,
como o resumo objectivo de uma crónica.
Dispões as mágoas numa matriz
e procuras a cura para cada cicatriz.

Amas sem limite, do menos ao mais infinito
e pelejas com o que para muitos não passa de mito.
Levantas o rosto na direcção do crepúsculo
e sabes, não passas de um ponto minúsculo.

Derivas argumentos com factos
por desvarios sinuosos e abstractos.
Trabalhas os números primos
mas o que anseias, mesmo, é por mimos.


As contas da vida,
essa tua ferida.
Extra-terrestre, astronauta,
encantador de flauta.
Essas pessoas reais,
que esqueceram os ideais.
Esses comportamentos complexos,
que te deturpam os reflexos.
Homem indivisível,
homem invisível.
Tu: pajem inteiro,
sem título de cavaleiro.
Tu: existência abandonada,
com a alma racionada.
Contador de mundos,
afogado em desgostos profundos.
Uma vontade que esfria,
num desaguar na noite sombria.
Ser perdido, sem pontas,
no céu, quantas estrelas tu contas?

Equacionas o interior
mas apenas te sentes inferior.
Um conjunto vazio numa depressão despegada,
hieróglifos do passado numa história apagada.

Martemático: poeta dos números;
quantificas corpos inúmeros.
Dissecas teorias que desmontas
mas nunca entenderás certas contas.

ejail

divãgações cronodesmedidas

Agosto 04, 2010

(imagem retirada da internet)

 

O meu relógio procura imitar um círculo perfeito, andando, sempre, para a frente, mesmo quando já está, outra vez, a voltar para trás. Não regula bem. Percorre um segmento de tempo: a exacta quantidade de tempo correspondente ao intervalo entre o seu nascimento e consequente, inevitável, extinção. Corre, passo a passo, com fé, com confiança, com paciência, com determinação na busca da constância. Quase equânime.

 

Mas o tempo é como uma roda de hamster. É uma prisão e uma arma de destruição maciça que mata com o desgaste da erosão. Não mata o Todo mas mata tudo. Até os ideais, que nada mais são do que modas com outro nome. O tempo passa por tudo e tudo aquilo que é passado pelo tempo é isso mesmo: passado – passado: devorador insaciável de presentes, de presente.

O arco do tempo é, ao que a minha vista alcança, infinito. O seu movimento é perpétuo. A sua obra é perene e num estranho contra-senso inacabada, acabando, contudo, com tudo. Tudo abarca e só ele é eterno. Tudo o mais é seu interno. Não o tocamos. Ele toca-nos e como ele nos toca.

Tudo é barro nas mãos do tempo e aquilo que começa é barro daquilo que acabou e aquilo que acabou é barro daquilo que noutro tempo começou.

 

Mas é para a frente que se faz o caminho... um caminho de barro, embora.

O meu relógio indica... não importa! Que importa o que diz o relógio? Talvez deva começar a ler os tempos e não os relógios. É, talvez, tempo de vender (ou dar) um relógio.

O meu relógio procura imitar um círculo perfeito, mas está longe de ser uma obra perfeita. É apenas um objecto que persegue algo maior e intangível. É preciso mas até que ponto preciso da sua precisão. São horas de perguntar o tempo e não tempo de perguntar as horas!

 

E sinto o tempo passar através dos átomos que compõem a minha carne. Sinto o tempo trespassar os fotões e a matéria negra que compõem a minha alma.

Sinto-me um ponto, infinitamente pequeno, num plano infinitamente grande. Sinto-me uma partícula de tempo e matéria, um instante relativo numa eternidade absoluta.

Não sou daqueles que se sentem grandes num mundo pequeno. Não sou daqueles que se sentem pequenos num mundo grande. Não sou daqueles que se sentem.

Sou daqueles que não sabem o que sentem. Sou daqueles que não sabem as respostas. Sou daqueles que desconhecem as perguntas. Sou daqueles que o tempo vai enterrar no esquecimento.

Sou daqueles que precisa de acreditar em Deus para sentir a segurança que a queda contínua num abismo não pode proporcionar. Sou daqueles que, de forma hipócrita, fala para o céu em busca de uma luz quando o olhar escurece. Sou este execrável. Sou este homem que se consome. Este homem que o tempo há-de consumir.

 

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