Metade de Oswaldo Montenegro
Junho 30, 2007
Para todos os que têm sede: sede de coragem, sede de ânimo, sede de alegria. Para todos os que têm sede de contacto humano, sede de Deus, sede de amor. A poesia é uma conselheira e uma confidente, sempre presente. É na poesia que, muitas vezes, encontro forças para me retrair. É na poesia que, muitas vezes, encontro forças para dar o próximo passo. É na poesia que, muitas vezes, encontro coragem para suportar a queda. É na poesia que, muitas vezes, encontro coragem para me levantar e forças para caminhar de novo. É na poesia que, muitas vezes, me encontro.
Já muita gente o conhece, por certo, mas há poemas que são eternos e podem ser lidos todos os dias. Hoje enriqueço o meu blog com o poema “Metade”, de Oswaldo Montenegro:
“Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
E a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
E a outra metade não sei
Que não seja preciso mais que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é a canção
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.”