Coração de Pedra
Junho 29, 2007
Continuo sem conseguir falar. Continuo fechado. Talvez, numa espécie de casulo, em metamorfose: ashrayaparavrtti. Escrevi este humilde conto, num dia em que a esperança parecia escassear...
Coração de Pedra
Agora volto às rimas da melancolia. Os sonhos são como o canto das sereias e eu não me consigo deter. Chamam por mim dia e noite e deixo-me seduzir, acabando, quase sempre, por acordar num poço de lágrimas:
– De onde vem esta água salgada? – Pergunto.
– Foste à fonte do amor, encher o coração, mas no regresso quebraste-o e verteste todas as suas lágrimas. – Responde a tristeza.
– Por que não me concedes outro coração mais forte e permites que o volte a encher na mesma fonte? – Replico, quase ansioso.
Mas, de imediato, o mar encapela-se e as sereias irrompem na conversa:
– Não! Reúne todos os pedaços, cola-os e volta à fonte, mas a maldição não te abandonará! No regresso, de novo, o partirás.
– Porque me fazem isso? – Pergunto já inconsolável e em desespero.
– Para que não fiques como eu. – Responde-me uma pedra. – Uma pedra não chora, mas também não ri. Não sofre mas também não sente. Junta sempre com paciência e mestria todos os pedaços quebrados do teu coração. Um dia terás força para vencer o canto das sereias e enganar a tristeza. Eu sou uma pedra e as pedras existem há milhares de anos, e sabem, portanto, do que falam.
Então penso para mim:
“As pedras são fortes e resistem, com bravura, ao passar do tempo. Sempre fui um apreciador das pedras, pois imagino que, tendo elas vivido tantos milhares de anos e presenciado tantos acontecimentos, sejam sábias e excelentes contadoras de histórias. É preciso saber escutá-las. Falam, melhor do que ninguém, nos hiatos do silêncio. Só espero ser homem bastante e ter forças para seguir o conselho da pedra.”
E assim se começa a construção… de um coração de pedra.
Atentamente,
ejail.